Poucas cinzas (Little ashes, 2008)

Neste drama histórico dirigido por Paul Morrison e ambientando na Madri dos anos 1920 e 30, vemos a difícil relação entre três das maiores personalidades da primeira metade do século XX em seus campos de atuação: o pintor Salavador Dalí (Robert Patisson) e o poeta e dramaturgo Federico Garcia Lorca (Jávier Beltrán), além Luiz Buñuel (Mathew McNulty), cineasta de filmes como Un Chien Andalou (1928).

O filme enfoca a aproximação dos três ao longo de uma quase quinze anos: de 1922, quando Dali chega à residência de estudantes da Academia de Belas Artes, até 1928, ano que marcou o começo de um longo período de afastamento; e depois de 1928 a 1936, quando Dalí e Buñuel já em Paris participam de diversos movimentos de vanguarda como o surrealismo, ao mesmo tempo em que propõe uma forma de viver a arte diferente da de Lorca. Para este, o fundamental era transformar a Espanha, mas a partir do patrimônio cultural e dos temas relevantes para uma sociedade profundamente convulsionada pelos anseios democráticos da esquerda revolucionária e pelo facismo nacionalista. Buñuel, por sua vez, tinha uma proposta mais iconoclasta que questionaria a própria cultura espanhola, em lugar de tentar transformá-la de forma concreta. Dalí, por sua vez, acompanha Lorca num primeiro momento – antes de se decidir por uma posição apolítica e indiferente.

O foco do filme foi a difícil relação amorosa entre Federico Garcia Lorca e Salvador Dalí, enlace que ficou oculto do grande público por décadas. O longa demonstra não apenas a lenta aproximação física e intelectual entre os dois jovens estudantes, como deixa clara a homofobia reinante na maioria dos meios – inclusive no meio artístico, sendo esta repreensão presente sobretudo na figura de Buñuel. O relacionamento é pontuado pela personalidade exuberante e fora do comum de Dalí, profundamente amado, mas incompreendido, por Lorca. A situação chegou ao extremo quando foi descoberta por Buñuel, o que precipitou tanto a separação física e amorosa dos personagens quanto à opção por caminhos distintos de atuação política, artística e social.

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