O meu orgulho,
O meu orgulho em primeiro lugar é individual. Por ter sobrevivido. Por ter brigado pelo amor das pessoas que eu amo — dos meus pais, dos meus amigos. Apesar da homofobia, própria e dos outros. Apesar dos preconceitos — inclusive dos meus, contra os quais luto sem parar, sem descanso, sem ceder terreno. Enquanto eu puder, enquanto eu viver. Nos meus termos, com minhas dores e cicatrizes.
O meu orgulho se amplia. É dos meus laços afetivos. De minhas famílias biológicas e lógicas. De pessoas que se tornaram irmãos de adoção, irmãos da vida — pela comunidade de experiência LGBTQI+.
O meu orgulho é pelo ativismo e militância. É pelo Tardes de Cinema, e cada um dos seus membros. Pelo aprendizado, pelo comprometimento, pelas falas e silêncios. Aqui eu quase explodo: são quase dez anos de caminhada, com um grupo que me mudou de forma tão ampla. Um grupo tão potente e poderoso que me fez encontrar o amor.
O meu orgulho é pela relação que estou construindo ao lado de Paulo. Pela parceria, pela oportunidade única, num universo infinito de estrelas e de possibilidades, de entrar dentro da estrutura e a demolir de dentro para fora. Transformando tédio em poesia, dissabor em deleite, vivendo a mil sem parar nunca, nunca, nunca.
O meu orgulho é profissional. Da minha dissertação, e do esforço por mostrar o jogo complexo entre opressão e rebeldia, com todas as nuances de todas as cores entre elas. O meu orgulho é por não aceitar a LGBTQfobia dos meus colegas, não me esconder, não me ocultar — nem sempre ganhando, nem sempre perdendo mas sempre brigando pelo melhor.
O meu orgulho é pela Rede de Historiadores LGBTQI+, fazendo Clio acordar do seu sono secular em relação a História de pessoas sexo e gênero diversas — combatendo os apagamentos produzidos pela e a despeito da historiografia.
O meu orgulho é pelos que se foram, pelos que deram a vida para que o mundo fosse melhor. Para que o amanhã fosse mais pleno, mais fechativo, mais bafônico. Desbunde, jeito de corpo, alegria de viver — e com todas estas pessoas, eu sinto um agradecimento que não passa.
O meu orgulho é por existir como uma transgressão da norma, por pensar, existir, aprender, resistir e transformar.
Ainda é pouco. Não cabe numa data, num mês, num ano. Não cabe sequer numa vida — e eu quero mais, muito mais.
Feliz dia do orgulho LGBTQI+.
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