O filme conduz com sensibilidade e beleza a narrativa da vida de um jovem, Steven, e a construção de uma identidade gay na adolescência. Esse processo, evidentemente, não se dá sem problemas e dificuldades. A começar por seu romance com outro colega, John Dixon, que é muito mais confuso sobre seus desejos e afetos que o protagonista, além de possuir um posição social que o deixa sob observação e cobrança constante (rico, bonito, atleta campeão, capitão do time de corredores e namorado da garota mais bonita da cidade).
Steven tem a oportunidade de observar as diferenças e similaridades na vivência da sua sexualidade pois compartilha suas experiências de descobertas com uma amiga, Linda, que é sua vizinha, e acompanha os dramas comuns de adolescente através de Mark, seu amigo hétero da escola. Em um momento significativo, Steven perde a paciência com os dilemas de Mark já que ele, sem saber que o outro está no armário, não tem como imaginar o quanto esses mesmos problemas são acrescidos de outros complicadores quando vividos por Steven.
Dixon inicia um relacionamento com Steven, mas não deseja que nenhum laço entre eles seja revelado, sequer de amizade. O que parece ser uma boa ideia para o protagonista, vai gradualmente se revelando uma solução cada vez mais dolorosa a medida que ele se dá conta das limitações, inseguranças e riscos que esse acordo lhe impõe. As concessões de Dixon, também envolvido emocionalmente, para se aproximar mais de Steven e se expor são muito limitadas devido ao seu profundo medo de que alguém descubra o que acontece entre os dois.
Por outro lado, Steven durante todo filme torna-se cada vez mais consciente das diferenças que são aplicadas a sua sexualidade. Isso acontece através da exposição de diversas situações em que ele tem que escondê-la ou é encorajado a negá-la, seja na família, na escola ou na comunidade. Na escola isso acontece tanto institucionalmente através da censura do tema da homossexualidade como entre seus pares por meio dos ataques de bullying por Kevin, um atleta que não por acaso também é amigo de Dixon e vigilante da sexualidade dos dois.
Saindo do Armário mostra essa experiência desde o começo de uma exploração descompromissada da sexualidade até a consolidação de uma identidade gay, através da afirmação desta em sua comunidade mas sem otimismos exagerados. Expõe os ganhos e perdas de bancar sua sexualidade e finalmente presenteia o protagonista com o grande prêmio: a liberdade.
Coordenador do Núcleo UniSex, escreve sobre cultura LGBTQIA+, comportamento digital e saúde mental. Atua como psicoterapeuta afirmativo e de casais/famílias diversas em neuropsipro.com.