Um filme desconcertante. Esta talvez seja uma definição possível para Shortbus (2005), película dirigida por John Cameron Mitchell, também diretor de Hedwig and the angry inch (2001). Rodado em cores fortes, o foco do longa são as trajetórias individuais de casais, gays ou não, em busca da satisfação de desejos pessoais reprimidos em contraste com os limites e traumas muitas vezes auto-impostos. Alguns em busca da felicidade, outros da salvação, ou de prazer, ou calor humano visitam a boate/cabaré Shortbus.
Numa New York de papel machê, o que fica em relevo são as fragilidades humanas, medos e neuras que persistem e frequentemente afetam a busca pela felicidade no presente. Este foi o caso da “protagonista” do longa, Sofia (Sook Yin-Lee), terapeuta de casais eternamente em busca do orgasmo; ou de Jamie (PH DeBoy) e James (Paul Dawson), casal gay marcado pela carência de confiança ao lado do excesso de cuidado; ou ainda Severin (Lindsay Beamish), prostituta dominatrix incapaz de se sentir realmente conectada com outras pessoas.
Numa proposta de tentar abordar as diferentes formas de amor, sem problematizar número de integrantes de uma relação, fetiches, diferenças etárias, etc., o filme pode ser entendido como um chamado pela busca do amor como prática, do encontro e afeto pelo outro e por si mesmo apesar de todas as limitações – e não em busca de aspirações ou representação impossíveis, contidas em fórmulas batidas.